Perdemos tantas guerras
Sumem-se tantas palavras
Se nos foge o raciocínio
Pra nós só ficam mágoas
Porquê mudar
Porquê ficar
Porquê ter de escolher
Um caminho para sofrer
Ó semente em que me tornei
Porque fui aqui plantado
Crescendo em mil negreiros
Do meu corpo fui retirado
Pesa o peso mais pesado
Corre fria esta dor sentida
Pelo meu imaginário
De mil uma é mais querida
Negras são as correntes
Que prendem a sua proa
E seus passageiros dementes
Não conhecem terra boa
Ó vida porque me tornaste
Num destes loucos incautos
Sem minha razão me entregaste
À dúvida dos mares altos
Fujo do mar, das caravelas,
E volto a porta segura
Ou observo, nas suas janelas
O cheiro da doce ternura
Perfume do diabo
Que já muitos conquistou
Não me enganes, ó vida
Nesses mares eu já não estou
Não percebo se já estive,
Ou se assim a mim me minto
Parte, ó doce caravela
E deixa o meu coração repousar
Se apenas fui confuso
Fica aqui o meu desejo
Sou de ti ignorante,
E no sonho me persegues
Para arrancar um novo beijo
Se de tua não for a culpa
Partirei em devaneios
Cala o som, fecha os teus olhos
E finda em estaca meus receios
Ó doce e bela paisagem
Não sei se loucos te chegarão
Despeço-me por coração
Assim manda obrigação
De um pesar que não terão.